Yoga para a felicidade
Alice (Gouveia, 11 Jun06)
O sofrimento existe. Todas as pessoas sofrem. Mesmo os momentos de aparente alegria, no fundo são sofrimento. Existem dois tipos do sofrimento: o que está associado a problemas práticos que temos na vida e que podemos tentar resolver, e o restante, a insatisfação que persiste, mesmo após resolvermos todos os problemas. Buscamos sempre algo que já temos. Fazemos por ter mais do que já temos bastante!
Por vezes identificamo-nos com o sofrimento, e assim é impossível sairmos dele. Temos que nos dissociar do sofrimento. Ver o problema de outro ponto de vista. O yoga permite-nos uma dissociação do sofrimento.
Existem duas realidades:
• Prakrti: Visível, é tudo o que conhecemos, desde a pedra aos pensamentos e emoções
• Purusha: capacidade de observar (não utilizando a matéria!!); o observador, quando se medita (significado da palavra em sanscrito: felicidade, puro, consciência (observação apenas, consciência visual, consciência táctil, etc.)); existência absoluta, consciência absoluta, felicidade absoluta.
Como nos identificamos com o Prakrti não sabemos quem somos! Porque nós somos o Purusha, não a matéria.
O essencial do conteúdo do Yoga Sutra de Patanjali parece ser a identificação das Causas do Sofrimento e um método que nos permite evitar o sofrimento: o Yoga dos Oito Membros.
As cinco Causas do Sofrimento:
• Ignorância: não sabemos exactamente quem somos, identificamos-nos com o que está à volta: corpo, roupa, casa, exterior,...
• Ego: a ignorância leva-nos a pensar que somos o ego, a identificamos-nos com o ego (o conceito usual negativo de ego, uma imagem coerente e falsa, que nos isola e protege, que mostramos aos outros e a nós próprios: eu sou melhor que tu, importante,…).
• Desejo: queremos ter à nossa volta tudo o que nos dá prazer, ânsia de querer.
• Aversão: não queremos ter à nossa volta tudo o que nos faz sofrer.
• Medo: de perder o que se tem, de vir a ter o que não se quer, e sempre da morte. O medo é a vibração mais baixa, e atrai todos os problemas. Temos que tentar acalmar os sentimentos, e sair deles (observá-los).
Estas são as razões que nos fazem agir, e mais cedo ou mais tarde acatamos as consequências (e.g. se despejámos ira em alguém vamos atrair ira sobre nós - energeticamente falando). A lei do karma significa que os efeitos produzidos pelas nossas acções negativas, por exemplo, geram uma cadeia de acontecimentos que vai acabar por nos afectar negativamente. Não existe um conceito de culpa envolvido, do género: vamos acabar por ter aquilo que merecemos.
O sofrimento que está para vir pode e deve ser evitado. Como? Tomando consciência das sensações; desenvolvendo uma visão clara; observando com recuo e frieza; descobrindo quem eu sou. Como evitar o sofrimento? Procurar o Purusha.
Para Patanjali é preciso cultivar um discernimento, para saber o que é o observador e o que não é, acompanhado de um apaziguamento. Para isso sugere a prática do yoga dos oito membros.
Yoga dos Oito Membros
1) Yama – disciplina, relação com o mundo exterior, relação com os outros
(a-himsa) não violência: abster-se; melhorar a outra pessoa, ajudar os outros.
(satya) veracidade: dizer a verdade, se não magoar. Se magoar, para melhorar a pessoa, senão ajudar é preferível omitir.
(asteya) não roubar, ser honestos, correctos. Para Patanjali nada justifica esta falha.
(brahmacarya) já foi interpretado como castidade. É um controle da sensualidade e essencialmente não usar e respeitar o outro.
(aparigraha) ser desapegado dos meus bens, ser generoso.
2) Niyama – autocontrole, relação com o mundo interior, relação connosco próprios
(shauca) pureza, limpeza, purificação mental.
(samtocha) contentamento.
(tapas) ascese, disciplina (práticas, pranayama, alimentação, pessoas com quem me dou, ambientes que frequento).
(svadhyaya) estudo, trabalho no conhecimento de nós próprios.
(Yshvara-pranidhana) capacidade de relaxamento: físico, relaxar em relação a um resultado, desapegar: “O homem é filho da acção, mas não é filho dos frutos da acção”, perceber que não conseguimos controlar tudo, na vida e universo há uma certa ordem, não é um caos. Devoção a Ishvara.
3) Ásana
4) Pranayama – controle da respiração.
5) Pratyahara – controle e trabalho com os sentidos.
6) Dharana – concentração.
7) Dhyana - meditação (a diferença é que na meditação não existe esforço de concentração).
8) Samadhi – êxtase, paz total inabalável, permanente.
Para ajudarmos o outro: O problema é do outro. Só voltando atrás, voltando a mim, é que consigo ajudar o outro.
O Purusha, não é bem o mesmo que a alma. É algo imutável e puro que sempre existiu, que por qualquer razão desconhecida, foi atraído para o Prakrti. Pode pensar-se que a alma é uma espécie de invólucro que contém o Purusha, mais qualquer coisa (o karma?). O Ishvara parece ser um Deus único existente na filosofia do yoga, que é monoteísta.
Eu, o Luís, acho que o seguinte. Independentemente de acreditarmos na existência de purushas e deus, isto parece-me tudo muito útil. Não me parece muito importante se acreditamos que existe qualquer coisa em nós que é pura e temos que descobrir, ou apenas que é possível agir sobre a mente, que depende do seu suporte físico, o cérebro e o corpo, tornando-a mais clara, tranquila e útil para nós e para os outros. Nem é preciso acreditar numa verdadeira essência da mente que é tranquila, pura, boa. Basta acreditar que há um potencial em cada pessoa, e que esse o caminho que mais beneficio nos trás. Seja o yoga do patanjali, o kundalini, a filosofia do Buda, do Jesus, pouco importa. O essencial é o mesmo, é na busca de paz interior, para diminuir a sempre presente insatisfação, no desenvolvimento de um interesse genuíno pelo bem estar dos outros (e não apenas para que gostem de nós), que se pode encontrar a alegria mais duradoura; todos queremos ser felizes, se a melhor maneira é contribuir para a felicidade dos outros então está tudo bem. O essencial é melhorar interiormente para poder ser melhor para os outros. Vivemos todos juntos, sofremos todos juntos, podemos melhorar todos juntos, o corpo, a mente, usando as técnicas do yoga. Além disso o yoga é fixe, sinto-me bem de cabeça para baixo e em muitas posições esquisitas e o yoga dá-me uma boa desculpa para fazer isso!
Apontamentos by Sofia e Luís